Eduardo Rivail Ribeiro & Walkíria Neiva Praça
(University of Chicago & UnB)
Este trabalho discute empréstimos lingüísticos e culturais entre os Tapirapé (Tupí-Guaraní) e Karajá (Macro-Jê), povos indígenas do Rio Araguaia que vêm mantendo contato mais ou menos íntimo ao longo dos últimos séculos. As tradições orais de ambos os grupos registram que, além de contatos comerciais (e, não raramente, hostis) entre os Tapirapé e os Karajá propriamente ditos (habitantes do braço principal do Rio Araguaia), teria havido intensos contatos entre os Tapirapé e um subgrupo Karajá em particular, os Javaé, que habitavam tradicionalmente o interior da Ilha do Bananal. Contatos mais recentes — e ainda em curso — envolvem os Tapirapé e os Karajá da Barra do Tapirapé (dialeto Karajá do Norte), resultando em vários casamentos interétnicos e uma situação de bilingüismo doméstico.
Além de servir para corroborar episódios registrados na história oral de ambos os grupos, o estudo dos empréstimos lingüísticos serve para ilustrar diferentes tipos (ou "camadas") de relações culturais, desde contatos comerciais superficiais a contatos culturais mais íntimos, resultantes da coabitação entre indivíduos de ambos os grupos. A continuidade do contato entre os Karajá do Norte e os Tapirapé, em particular, vem deixando uma marca profunda em vários aspectos da vida cotidiana, com conseqüências lingüísticas à primeira vista paradoxais — um grande influxo de empréstimos lexicais em Tapirapé, por um lado, e, por outro, alterações na sintaxe do Karajá falado por membros de famílias mistas —, mas que encontram explicação na interessante dinâmica do contato entre ambos os grupos.
(VI Encontro Macro-Jê, Goiânia, em 13 de novembro de 2008)
- A questão da terra (CPI-SP 1981)
- Línguas e culturas macro-jê (Rodrigues & Cabral, orgs. 2007)
- Terra sem sombra (Aureli 1964)
- Sertões bravios (Aureli 1962)
- Lá longe, no Araguaia (Tournier 1942)
- Expedição sertaneja Araguaia-Xingu (1945) (Caiado 1952)
- O Estado e os índios: Goiás 1850-1889 (Rocha 1998)
- Nos sertões do Araguaia : Narrativas da expedição às glebas bárbaras do Brasil central (Silva 1935)
- Les indiens qui meurent (Lelong 1952)
- Roncador (Aureli 1962)
- Na serra do Roncador (Vanguarda da Bandeira Anhanguera) (Brasileiro 1938)
- Symphonie brésilienne (Lelong 1951)
- O rio da Solidão (Aureli 1957)
- Biu-marrandu (Os donos das chuvas) : Penetração do rio Uabé, na Ilha do Bananal (Aureli 1963)
- Negação de constituinte topicalizado em tapirapé (Praça 2002)
- Problemas e soluções do dicionário karajá (Maia 2002)
- Considerações sobre neologismos em karajá (Fialho 2002)
- A língua tapirapé: um estudo de caso de uma pesquisa infinda (Leite 2002)
- Línguas indígenas : Memórias de uma pesquisa infinda (Leite 2012)
- Diário de viagem de São Paulo a Belem do Pará : descendo o Araguaya : set.-out. 1935 (Pereira 1935)