[Nimuendajú] foi guiado por um compromisso radical — ético, político, epistemológico e vital — com as formas de vida e a sorte dos povos indígenas. Mais que teuto-brasileiro (naturalizou-se em 1922 com o nome de Curt Nimuendaju), ele foi um teuto-ameríndio: pois Nimuendaju nunca escondeu seu desprezo e sua indignação face aos habitantes de origem ou identidade européia do Brasil, responsáveis pela miséria física e psicológica dos índios, incapazes, em geral, de perceber e admirar a dignidade intrínseca das formas culturais nativas; incorporando antifrasticamente o uso local, Nimuendaju os chamava de ''cristãos'', e mais tarde veio a classificá-los de ''neobrasileiros '', anacronismo nem por isso menos eloqüente.
(Eduardo Batalha Viveiros de Castro, Curt Nimuendaju: 104 mitos indígenas nunca publicados, 1986)