O Tupi, entre várias outras línguas indígenas
Algumas palavras de origem não-Tupi têm ocorrência limitada a variedades regionais do português brasileiro. É o caso de aribé 'prato ou bacia de barro', palavra de origem Kipeá (Kiriri) usada no Nordeste.
O Tupi é geralmente mencionado na mídia como tendo sido "a língua original do Brasil". De fato, o Tupi era apenas uma dentre centenas de línguas indígenas faladas originalmente no País. Mas, como o Tupi era falado ao longo de quase toda a costa brasileira, acabou desempenhando um papel importante na colonização do País nos primeiros séculos. Consequentemente, deixou marcas profundas na língua portuguesa falada no Brasil e é ainda parte de nosso cotidiano, principalmente no que diz respeito ao vocabulário.
Além de centenas de nomes de alimentos (pirão, pipoca, paçoca), utensílios (cuia), plantas (amendoim, mandioca, taioba) e animais (tatu, capivara), que se referem à fauna, flora e costumes originais do país, há também vários topônimos (ou seja, nomes de lugares, como Piracicaba e Pindamonhangaba) e até verbos usados no dia-a-dia, como cutucar, socar (com um pilão), quarar e petecar.
Enquanto muitas palavras do Tupi são comuns no português falado na maior parte do Brasil, algumas são de uso regional — caso de jojoca 'soluço' (de uso comum em Curitiba) e piá 'criança', usado no Sul do Brasil. Algumas palavras de origem não-Tupi também têm ocorrência limitada a algumas variedades regionais do português brasileiro. É o caso de aribé 'prato ou bacia de barro', palavra de origem Kipeá (Kiriri) usada no Nordeste. Mas nem toda palavra de origem indígena em português é de origem brasileira. Chácara, por exemplo, veio do Quechua, a língua do Império Inca (que ainda conta com milhões de falantes nos países andinos); xícara, por outro lado, veio do Náhuatl, língua do Império Asteca (que ainda é falada por mais de um milhão de mexicanos). Ambas as palavras provavelmente ingressaram no português através do espanhol.
Sugestões de atividades
Para os alunos
Pesquisa
Sugira aos alunos que consultem o Pequeno Vocabulário Português-Tupi, do Padre Lemos Barbosa (1970), e procurem palavras de origem Tupi que façam parte de seu cotidiano. É uma boa maneira de demonstrar o papel da língua e dos costumes indígenas na formação da cultura brasileira e sua presença no nosso dia-a-dia.
Vídeo
Assista com os alunos o vídeo "Mingau com chuva"; nele ocorrem duas palavras, muito comuns no dia-a-dia, cuja origem Tupi tende a passar despercebida:
Para os professores (e alunos do ensino médio)
Sugestões de leitura
- Leite, Yonne. 2000. A gramática de Anchieta: 500 anos de língua tupi. Ciência Hoje, vol. 28, no. 163, 42-47.
- Rodrigues, Aryon Dall'Igna. 2005. Sobre as línguas indígenas e sua pesquisa no Brasil. Ciência e Cultura, v. 57, n. 2, pp. 35-38.
- Seki, Lucy. 2000. Línguas indígenas do Brasil no limiar do século XXI. Impulso, volume 12, n. 27 (edição sobre os 500 anos do Brasil), p. 233-256.
Vídeo nas Aldeias
- O projeto 'Vídeo nas Aldeias' produziu, como subsídio ao currículo escolar, uma série de dez vídeos educativos intitulados 'Índios no Brasil'. Apresentados por Ailton Krenak, os vídeos lidam com questões do cotidiano (aspectos culturais, questão fundiária, etc.) e da história do contato. Os vídeos não ensinam apenas sobre os índios e seus costumes, mas têm também muito a ensinar sobre a percepção dos não-índios, demonstrando o quanto ainda há de desinformação e preconceito contra os índios em nossa sociedade. O segundo vídeo da série trata das línguas indígenas e do direito à educação diferenciada em língua indígena. Entre os entrevistados está o professor e linguista Joaquim Kaxinawá, do Acre.
Informações atualizadas sobre povos indígenas
- Página do IBGE sobre populações indígenas, que divulga dados sobre terras, etnias e línguas indígenas
- Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil
- Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil Mirim
Profissões
O que fazem os linguistas
- Conheça um pouco da trajetória profissional de Lucy Seki, professora da Unicamp, que trabalha com um povo do Xingu, os Kamaiurá: