Peret, Jijukè e a nota de mil cruzeiros: saudade de Ijeseberi

por Eduardo R. Ribeiro

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Esse livrinho de "Mitos e lendas Karajá" (Peret 1979) que o Renato Nicolai, com a generosidade habitual, compartilhou conosco na Biblioteca Digital Curt Nimuendajú, me trouxe algumas boas lembranças dos bate-papos que eu tinha com o saudoso Ijeseberi Karajá (falecido em 2006), um linguista nato que me ensinou muito sobre sua língua e sua cultura.

Jyjè (adaptação de "José" em Karajá e, também, apelido do Ijeseberi) sempre me falava do Peret, cuja casa ele havia visitado no Rio de Janeiro, se me lembro bem. Com uma pontinha de orgulho, dizia que a mulher Karajá na nota de mil cruzeiros era sua tia Jijukè, fotografada pelo Peret. E, com mais orgulho ainda, lembrava que sua filha também se chamava Jijukè, em homenagem à tia.

Pois a tal foto aparece justamente neste livrinho, lá na página 18 (Peret escreve seu nome como "Didiué", com a ausência do /k/, característica da fala masculina em alguns casos). Uma imagem icônica, que não deve permanecer anônima.

Jijukè, a filha, enfermeira, defendeu no ano passado sua dissertação de mestrado em Direitos Humanos e Cidadania (UnB), e promove, ao lado de outras mulheres de seu povo, a "Campanha das Mulheres Iny Mahadu (Karajá) contra COVID-19", que visa a angariar recursos para iniciativas de combate ao vírus e conscientização do público em suas comunidades. Imagino o quanto meu amigo Jyjè estaria orgulhoso.


Lista Etnolingüística, 14/ago/2020

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