"Nascido em Iena, Alemanha, no ano de 1883, Curt Unkel emigrou em 1903 para o Brasil. Dois anos mais tarde, convivia com os índios Guaraní no oeste de S. Paulo e no sul de Mato Grosso, tendo deles recebido o nome de Nimuendajú, que adotou e pelo qual se tornou conhecido na literatura etnológica. Trabalhou para o Museu Paulista, então sob a direção de Hermann von Ihering, e para o recém criado Serviço de Proteção aos Índios, chefiado por Rondon. Ao mesmo tempo ampliava seus conhecimentos sobre a etnografia brasileira através da leitura e a correspondência com etnólogos de nomeada. Em 1913 transferiu-se para a Amazônia e seus contactos com índios dessa região datam do ano seguinte, quando visita os Tembés, Urubus e Timbíras. É então que publica seu primeiro trabalho sobre a religião dos Apapocuva-Guaraní (Die Sagen von der Erschaffung und Vernichtung der Welt als Grundlagen der Religion de Apapocuva Guarani, in Zeitschrift für Ethnologie, 46. Berlin, 1914, pp. 284-403), até o presente considerado um clássico em nossa literatura etnográfica. No SPI distinguiu-se pela pacificação dos índios Parintintins, habitantes do rio Madeira.
Viajando por conta própria ou em missão de museus nacionais ou estrangeiros, entre eles o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Museu Nacional, e o Museu de Gotemburgo, ou associado a instituições como a Carnegie e Universidade de Califórnia, Nimuendajú percorreu todo o norte e parte do nordeste, além de viagens ocasionais a outras regiões. Dessas expedições resultaram inúmeros trabalhos de etnografia, lingüística e arqueologia. No Museu Goeldi, ministrou cursos de antropologia e durante algum tempo ocupou a chefia da secção de Etnografia.
Nimuendajú faleceu em dezembro de 1945, no rio Solimões, quando estudava os índios Tucunas.
Deixou cerca de 50 trabalhos, publicados em alemão, inglês, e português. Nesta língua apenas alguns artigos, sendo praticamente nula a divulgação de suas principais obras. Além desses estudos deixou uma série de manuscritos inéditos, atualmente em poder do Museu Nacional, aguardando publicação. Dentre seus estudos de maior importância, destacam-se os que versam sobre os vários aspectos da cultura dos índios geralmente denominados de Timbíras, do grande grupo lingüístico Jê, publicados em sua maioria pelo antropólogo norte-americano Robert Lowie, que os traduziu e editou em língua inglesa. O primeiro dessa série, sobre os índios Apinayé (The Catholic University of America Anthropological Series n. 8, Washington, D. C, 1939) foi considerado por Lowie como "a primeira monografia sobre uma tribu Jê que satisfaz as exigencias modernas" * e o mais adequado a uma introdução ao conhecimento etnológico desse grupo lingüístico. Esse trabalho, em versão portuguesa, foi ao tempo da administração de Carlos Estevão, no Museu Goeldi, revisto, anotado e corrigido por Nimuendajú para publicação por essa instituição. Circunstâncias várias, entre essas a quase paralização de publicações pelo Museu, fizeram com que o manuscrito não fosse editado.
O Museu Paraense Emílio Gceldi, atualmente sob a administração do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, órgão do Conselho Nacional de Pesquisas, retomando a publicação de seu Boletim, trás a luz esse trabalho de Nimuendajú, ainda inédito em nossa língua, o qual recomenda-se pela qualidade técnica e por ser a primeira monografia desse cientista a ser publicada em português. Resgata-se, assim a uma dívida de longa data ao mesmo tempo que se proporciona aos estudiosos de nossa etnologia um documento de primeira ordem." (Intro, p. VII-VIII)