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WAGLEY, Charles
  • Notas sôbre aculturação entre os Guajajara. Boletim do Museu Nacional, N. S., Antropologia N. 2, Rio de Janeiro 1943, 12 pp.

Segundo o autor, essa tribo tupi dos rios Mearim, Grajaú, Zutiua e Pindaré, no Estado do Maranhão, por "nenhuma diferença apreciável na língua e nos costumes" é separada dos índios Tembé, do rio Gurupi; "ambos os grupos se consideram Tenetehara e constituindo um só povo, à parte dos Urubu, Guajá, Timbira e neo-brasileiros, com os quais têem contacto. Atualmente os Guajajara-Tenetehara, como população, passam de 2.000 e os Tembé-Tenetehara são, talvez, uns 350 a 400." (p. 1).
No presente resumo dos resultados de suas pesquisas entre os Guajajara do vale do rio Pindaré, realizadas durante os meses de dezembro de 1941 e de janeiro, fevereiro e março de 1942, Wagley chega às seguintes conclusões: "Em mais de trezentos anos de contacto com outras culturas, a cultura guajajara assimilou novos valores, perdeu muitos de seus traços originais, e incorporou outros tantos forasteiros, fundindo-os em nova cultura indígena. A agricultura pelos antigos métodos é ainda a base de sua subsistência, mas a sua vida econômica mudou, em face das solicitações de uma economia mundial e da criação de novas necessidades ― como roupas, armas de fogo, sal, etc. Os laços de parentesco constituem os fundamentos da organização social, mas os chefes são-lhes indicados pelos administradores brasileiros. Ritos e costumes do ciclo da vida diferem dos padrões originais, principalmente pela perda de elementos.
Vários mitos originais persistem ainda, mas, de quando em quando, surgem elementos europeus em suas histórias primitivas, e sua moderna mitologia inclue muitos contos introduzidos. É nos conceitos do sobrenatural e do xamanismo que a cultura guajajara tem resistido mais… Os neo-brasileiros tomaram dos índios, métodos de agricultura e técnicas (tipití, arco e flecha para pescar, fabrico de cestas, etc.), e aprenderam com êles a crença em vários seres sobrenaturais, como mãe-dágua (üwán, em Guajajara), curupira (maranã üwa, em Guajajara) e zurupari, perigoso demônio da floresta. Os neo-brasileiros têem feiticeiros chamados pagés (pazé, em Guajajara), que dançam acompanhados de maracá e atraem seus espíritos familiares por meio de cantos. Fumam grandes charutos semelhantes aos dos Guajajara; são possuidos pela mãe-dágua, ou São Pedro, ou Santo Antonio. Curam os doentes, extraindo-lhes do corpo, por sucção ou massagem, um objeto nele introduzido por feitiçaria. Assim, os xâmans neo-brasileiros usam métodos indígenas, tendo ido muitos dêles viver algum tempo numa aldeia de índios, para aprender a profissão com um pažé." (p. 11).

(p. 752-753)

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