THEVET, André [1502-1592]
- Les Singularitez de la France Antarctique. Nouvelle édition avec notes et commentaires par Paul Gaffarel. Paris 1878. lxii, 459 pp. in-8.º, figuras no texto. ― A primeira edição apareceu em Paris, no ano de 1557. Uma tradução italiana saiu em Veneza, no ano de 1561, sendo reeditada em 1584. A primeira versão inglêsa saiu em Londres, em 1568.
Esta obra de Thevet contém muitos dados concernentes aos Tupinambá, os quais, porém, só podem ser utilizados cèpticamente, se considerarmos as observações de Gaffarel acêrca da inexatidão, da tendência a exagerar e da extrema credulidade do autor (pp. xix, xx e 312).
Estevão Pinto, prefaciador, tradutor e anotador da edição brasileira intitulada "Singularidades da França Antarctica a que outros chamam de América" (série Brasiliana 229, São Paulo 1944, 502 pp. in-8.º, 24 figuras no texto, bibliografia), acha que "estariam incompletos sem a obra de Thevet… o estudo dos pagés, o das operações bélicas, o das práticas mortuárias, o das doenças e o de certos aspectos da civilização material dos indígenas do Brasil." (ib.p.21). E acrescenta: "É ainda opinião dos entendidos que foi o autor das Singularidades quem deixou a primeira e a melhor notícia do processo de fabricar a tinta do jenipapo…" (ib.p.23). Se compararmos, porém, esta notícia (ib.pp.195-196) com a informação a respeito dada por Hans Staden, no capítulo 37 da sua monografia sôbre os Tupinambá aparecida em 1557, portanto, no mesmo ano que a edição princeps das "Singularitez" (cf. a edição de E. Pinto, p.16), verificamos a injustiça daquela "opinião dos entendidos" infelizmente não citados.
Uma inexatidão do livro de Thevet que, pelo que sei, os críticos ainda não apontaram, está nas xilogravuras que representam a casa tupinambá com teto e parede constituindo duas peças diferentes ao invés de uma só, como mostram as figuras de Staden e Léry, e ainda as casas em forma de abóbada comprida de certos Tupi modernos.
Acêrca da edição brasileira de Thevet observa E. Pinto (o.c., p.6): "A presente tradução foi feita através da edição de 1558 (Paris). Também me servi da edição de Gaffarel (1878), que é acrescida de seiscentas e sete notas. Entretanto, dessas seis centenas de notas, só utilizei realmente umas poucas delas ― cerca de quarenta ― sendo que algumas foram mesmo ampliadas ou robustecidas de novos dados. Muitas outras notas de Gaffarel tiveram de ser por mim desprezadas, umas porque, como é natural, já não estavam em correspondência com o estado atual dos conhecimentos científicos (por exemplo, aquelas sôbre a viagem de Orellana), outras porque não passavam de erros ou lapsos desse ilustre escritor francês." O valioso trabalho de Estevão Pinto é ainda enriquecido por erudito estudo do Dr. Eustachio Duarte sôbre o "pian" (ib., pp. 473-480), doença índia mencionada por Gabriel Soares de Sousa sob o nome de "boubas" .
No seu estudo crítico, intitulado "Iean de Lery, viajante de singularidades" (Revista do Arquivo Municipal CVIII, S. Paulo 1946, p. 23-112), Francisco Rodrigues Leite menciona as opiniões de diversos autores acêrca de Thevet e procura reabilita-lo confrontando o seu livro com o de Léry para demonstrar os plágios dêste.
(p. 721-722)