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HENSEL, Reinhold

Ligeiras notas sôbre êsses índios que, na etnologia moderna, são chamados de Kaingang. O autor supõe ser sua imigração ao Rio Grande do Sul mais ou menos recente, por não existirem, nessa província, topônimos tomados de sua língua (cf., porém, a êsse respeito, Francisco S. G. Schaden: "Denominações caingang na geografia brasileira"). Êle pensa que vieram do noroeste, "talvez da província do Paraná", empurrando os Aweikoma para Santa Catarina. Os Kaingang, "sendo verdadeiros índios da mata, evitam os campos e as águas… O govêrno brasileiro esforçou-se para tirá-los de suas selvas, acostumando-os a terem moradas fixas. Por isso, no Rio Grande do Sul, quase todos êles vivem, atualmente, num estado mais ou menos civilizado, estando estabelecidos nos seguintes três pontos: na região de Nonohay, no Alto Uruguai, perto da foz do rio Passo Fundo; nos Campos do Meic; e perto da colônia militar de Caseros, situada no Mato Português, entre os Campos do Meio e os Campos da Vacaria". (p.126). Em 1865 o autor visitou os índios dêste último lugar. Segundo êle, os Kaingang praticam, no tocante aos chefes, a sepultura secundária, exumando os ossos depois de apodrecida a carne e enterrando-os, novamente, em outro lugar (p. 127). O autor viu uma cova funerária de chefe descoberta do capim pela dança realizada em cima dela. Depois dessas danças, os homens se embriagam com uma bebida de milho mastigado pelas mulheres (p. 128). Os Kaingang não usam armadilhas. Caçam papagaios com flechas de ponta achatada ou com laço armado na extremidade duma vara comprida. Para êste fim escondem-se em choças construídas de galhos, na copa das árvores em que essas aves costumam pernoitar aos bandos. Por meio do laço, o caçador pega, um por um, os papagaios em seu pouso e retirando a vara leva-os para dentro da tocaia, onde os mata (p. 129). Outro tipo de flecha é munido de um osso de macaco ou veado, cujas extremidades servem de ponta farpada (pp. 130). Êsses Kaingang caçam veado e aguti, mas não comem sua carne (p. 130).

O trabalho de Hensel é complementado por um vocabulário de 33 palavras (pp. 134 e 135) e um estudo sôbre dois crânios desenterrados pelo autor e descritos por êle sob o título "Die Schädel der Coroados" na mesma revista, tômo II, Berlin 1870, pp.195-203 e prancha VII.

Uma boa e completa versão portuguêsa foi publicada sob o título "Os Coroados da Província brasileira do Rio Grande do Sul" na Revista do Museu e Archivo Publico do Rio Grande do Sul, n.º 20, Porto Alegre 1928, pp. 65-79.

(p. 302-303)

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