ABREU, João Capistrano de
- rã-txa hu-ní-ku-ĩ. A lingua dos Caxinauás do rio Ibuaçú affluente do Murú (Prefeitura de Tarauacá). Rio de Janeiro 1914. 630 pp. — Existe 2.ª edição com as emendas do autor e um estudo crítico do Prof. Theodor Koch-Grünberg, Rio de Janeiro 1941. 635 pp. in-8.º.
Com dois rapazes kaxinauá, um de vinte e outro de treze anos de idade e ambos há muito tempo fora de sua terra, realizou o autor êsse magistral estudo repleto de dados lingüísticos, mitológicos e etnográficos em geral sôbre aquela tribo pano da bacia do Juruá. A parte principal do livro consiste em textos com a tradução literal em português, coordenados pelo autor sob os seguintes títulos: Vida da aldeia; alimentação; festas; vida sexual; vida, morte, feiticeiros; anecdotas; Caxinauás transformados em bichos; bichos encantados em Caxinauás; bichos entre si; Caxinauás e bichos; Caxinauás entre si; feiticeiros e espíritos; astronomia; o fim do mundo e o novo mundo; a dispersão.
Valiosos complementos são as notas gramaticais (pp. 11-32), os vocabulários alfabéticos português-kaxinauá e kaxinauá-português (pp. 524-621) e o postfácio (pp. 621-630). À página 8 o autor observa: "No Jornal do Commercio de 25 de Dezembro de 1911, de 7, 14 e 21 de Janeiro immediato foi publicada a apuração dos dados ethnographicos fornecidos pelos dois Caxinauás, que não vai em appenso para não carregar ainda mais o volume." — Êstes artigos foram reproduzidos no livro póstumo de Capistrano de Abreu, intitulado "Ensaios e Estudos", 3.ª série, Rio de Janeiro 1938, pp. 275-347.
O "estudo crítico" de Koch-Grünberg, que acompanha a segunda edição de "rã-txa hu-ní-ku-ĩ", não é mais que um grande elogio, aliás bem merecido, dêste já clássico livro, considerando-o "obra de alto valor cientifico, quase sem paralelo na lingüística e etnografia sul-americanas. O maior e melhor material que jamais se publicou sôbre língua sul-americana de índios, e ao mesmo tempo uma excelente monografia da vida econômica, dos usos e costumes e do folklore." (p.633).
(p. 44-45)